UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
JADE SCHMIDT KNORREO
JORNALISMO DE AVENTURA NO LIVRO–REPORTAGEM
“EM BUSCA DO MUNDO MAIA”, DE
AIRTON ORTIZ
O Jornalismo de Aventura é um termo atribuído ao trabalho do jornalista e escritor Airton Ortiz, referenteas suas mais de dez viagens radicais pelo mundo relatadas em livros publicados pela Editora Record. Ortiz contou,em entrevista (APÊNDICE A) concedida à autora, no dia 9 de novembro de 2014,que sua primeira viagem foi escolhida para ser apenas uma aventura e o roteiro privilegiaria o contato com a natureza e os esportes radicais.
O primeiro livro–reportagem, Uma Aventura no Topo da África,seria sobre como escalar uma montanha:
E como jornalista convencional o que eu deveria fazer? Eu deveria entrevistar as pessoas que escalaram a montanha e contar isso. Eu quebrei essa regra e eu escalei essa montanha. Eu escrevi a reportagem sobre a minha própria experiência. Esta abordagem do repórter ser ao mesmo tempo o autor da reportagem e o protagonista da reportagem é que começou a ser chamado de Jornalismo de Aventura (APÊNDICE A).
A maneira com que Ortiz construiu a história, segundo ele próprio menciona, foi o diferencial:ele se utiliza de uma linguagem diferente do jornalismo convencional, que se não restringe apenas ao pontual. A informação é passada por meio de uma linguagem literária.Para o autor, a diferença está entre linguagem e abordagem: “a linguagem é literária, mas a abordagem é jornalística” (APÊNDICE A).
Importante destacar, também, que o autor escreve em primeira pessoa, característica forte em Jornalismo de Aventura, justamente pelo repórter ser o protagonista da reportagem. O autor acredita que sua participação na narrativa enriquece a história, como ressalta na entrevista: “Ao passar para o papel as minhas emoções, eu vou ter um conteúdo muito mais rico […] se o próprio jornalista vai lá, é como contar uma história em primeira mão” (APÊNDICE A). Usando o livro Em Buscado Mundo Maia, Airton Ortiz explica que a reportagem feita por um jornalista moldado pelas técnicas convencionais seria apenas uma grande reportagem sobre as cidades maias, com pesquisas feitas em alguns livros e entrevistas com pessoas que tivessem passado pelo local ou com especialistas no assunto.Segundo Ortiz (APÊNDICE A), nada se compara às vivências que se pode ter in loco, experimentando essa outra realidade.
Sobre o Jornalismo de Aventura em outras plataformas, Ortiz (APÊNDICE A) alerta para o ponto prejudicial dos outros meios de comunicação: a pré–produção, em especial na televisão, a grande equipe de filmagem e a estrutura técnica necessária. Afirma que“o programa de TV é muito pré–produzido, ele praticamente elimina o risco, […] tira a essência da coisa que é a aventura propriamente dita” (APÊNDICE A). A melhor linguagem, segundo Ortiz (APÊNDICE A), é a escrita, pois a aventura não se explica em poucas páginas, portanto,“a mídia livro é a mais apropriada para fazer isso, porque é onde te permite realmente aprofundar bem a abordagem que tu estás dando” (APÊNDICE A).
Como forma de captação, Ortiz e,consequentemente,o Jornalismo de Aventura, se utilizam de uma grande pesquisa feita antecipadamente e,também,no local; entrevistas com os moradores e pessoas da localidade, a fim de descobrir coisas que os nativos consideram importantes, não necessariamente turísticas;um diário muito minucioso com anotações sobre tudo que acontece durante a aventura; e fotografias para auxiliar a memória dos acontecimentos e registrar os fatos.Segundo o autor, são necessários três meses de preparação e estudo antes da viagem, três meses viajando e mais três meses para escrever e concluir o livro. Sobre como construir a narrativa, o autor afirma que “isso nada mais é do que uma reportagem, a matéria tem uma pauta, e eu só uso aquilo que aconteceu e que está dentro da minha pauta”(APÊNDICE A). Sobre as entrevistas, Airton Ortiz comenta que não se identifica como jornalista em função das pessoas perderem a espontaneidade, mas ao utilizar a fala de algum entrevistado em seus livros, ele garante que protege a fonte: “Sempre que alguém se expôs ao me dar a informação, eu protegi essa fonte usando um pseudônimo, porque o importante para mim não é a fonte, é a historinha que ela me conta” (APÊNDICE A). O autor deixa claro que no Jornalismo de Aventura não há repórter isento, justamente porque a narrativa se apoia em experiências do autor do livro e a emoção e os sentimentos transparecem no texto.