Obras sob Tutela

E toca o telefone

— Agência literária.

— Estava torcendo que fosse você. Tudo bem?

— Tudo e com o senhor?

— Bem, mas aflito. Uma felicidade angustiante.

— Por que dessa vez?

— Lembra aquela história que te contei e você gostou muito.

— Claro, sua obra de amor com vampiros e loiro das índias, não era?

— Essa mesmo. A agente aprovou, mas tive de mexer muito, tirar capítulos, mudar personagens e um dia achei que estava fechado o livro.

— Sei.

— Mas agora quero alterar. Você sabe se ela deixou o ‘note’ dela ai?

— Deixou sim, ela saiu para tomar um café.

— Por favor, eu imploro, abre o computador e veja se ela já mandou para os editores.

— Nem pensar. Não chego perto daquela coisa.

— Para de besteira. É a mesma coisa que seu ‘smartphone’. Acredita em mim.

— Mas afinal que você quer que eu faça?

— Que me ajude a trocar a nova versão pela velha, a que a agente tem no computador dela.

— E trocar por que?

— Tem três vírgulas erradas na página cinco. Nenhum editor vai aceitar isso.

— Fala mais alto, sua voz está longe. Alô, alô…

— Bip, bip, bip.

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