— Você ligou para Agência Literária. Estamos na Bienal do Livro de São Paulo, mas deixe seu recado.
— Sou escritora inédita. Que bom que estão na Bienal, isso me passa a ideia de que estão trabalhando pelos autores. Meu telefone é 99-99999-9999, aguardo o contato de vocês.
— Você ligou para Agência Literária. Estamos na Bienal do Livro de São Paulo, mas deixe seu recado.
— Sou a escritora inédita de novo. Pensando bem, vou insistir muito para vocês me ligarem ainda hoje. Tenho certeza que minha primeira novela vai provocar um leilão no mercado. Apesar de que acho que ela tem uma cara que está entre a editora dos livros e a de conteúdo. Não esqueçam de me ligar, pode ligar até 24 horas. Durmo depois das 2 horas da madrugada.
— Você ligou para Agência Literária. Estamos na Bienal do Livro de São Paulo, mas deixe seu recado.
— Que chato, esqueci de falar quem me indicou vocês. Meu grande amigo, o Ted. O Ted, lembra? Edita livros jurídicos em Manaus. Falou muito bem de vocês. Leu a minha novela e achou perfeita para o mercado editorial do eixo Rio-São Paulo. Estou aqui com celular ligado, bateria carregada, aguardando o telefonema de vocês. São 18 horas, imagino que devam estar terminando o primeiro dia de trabalho.
— Você ligou para Agência Literária. Estamos na Bienal do Livro de São Paulo, mas deixe seu recado.
— São 22 horas e, nessa espera, resolvi reler uns trechos da minha novela. Posso comentar? Tem um momento de amor. Não. Não é sexo explícito. Um momento de carinho entre o casal protagonista. Depois de muitos problemas para se encontrar, conseguem achar uma café aberto e entram. Uma cena de muitas juras de fidelidade e solidariedade. Acho tão lindo esse trecho. Não precisa ligar assim que sair da Bienal, descansa e me liga. Fico acordada até as 2 da madrugada mesmo.
— Você ligou para Agência Literária. Estamos na Bienal do Livro de São Paulo, mas deixe seu recado.
— Sabe de uma coisa? Uma amiga me ligou, agora mesmo, no fixo daqui de casa e falou que sou louca. Nas palavras delas: “quem você conhece que faz seu primeiro contato profissional às 23 horas?” Nem vou repetir o resto do que ela me falou, senão fico gravando aqui por meia hora. Sei mesmo que ela me convenceu a deixar esse recado para a agente. Por favor, me ligue. Minha novela, apesar de ser minha, é muito boa. Não vou falar de best-seller, porque não sou do estilo da Paula. Mas também não falo em bad-seller (e agora nem sei se existe bad-seller). Agora ficou ainda mais importante vocês me ligarem para falarmos, também, de best-seller.
— Você ligou para Agência Literária. Estamos na Bienal do Livro de São Paulo, mas deixe seu recado.
— Pois é, ainda não dormi. Uma hora da madrugada e antes de me acomodar para dormir, resolvi fazer essa última ligação. Por favor, imploro, não conta para minha amiga que liguei para vocês a uma hora da manhã. Obrigada. Queria deixar mais uma pergunta para vocês responderem. Vocês acham que o primeiro beijo de amor deve acontecer no meio ou no final do livro? Se coloco o beijo no meio, fico aqui imaginando… o que vem depois de ‘viveram felizes para sempre’? Porém, a minha protagonista está grávida, e o protagonista não sabe. Quantos capítulos devo usar para ele descobrir que ela está grávida? E outra: ele aceita de pronto e fica feliz que vai ser pai ou cria uma encrenca com isso? Bom, na espera de vocês. Podem me acordar daqui a pouco, às 11 horas da manhã.