— Oi. Por que você está falando tão baixo?
— A agente está lendo.
— Oba. Vai sair meu contrato hoje.
— Não sei não…
— Mas ela me prometeu…
— Vou te contar o que aconteceu.
— Conta, tem todo meu apoio de escritor pré-contrato.
— Lembra que te falei que tinha uma pilha de cadernos de textos para virar livros quase alcançando o teto?
— Lembro os ‘originais’ que nós autores mandamos. E?
— Isso mesmo que você falou. Ao lado dessa começou outra pilha de papéis grampeados.
— O que estava escrito na primeira linha? Uma palavra que começava com ‘Co’?
— Como você adivinhou?
— A palavra toda era Contrato?
— Ai já não reparei.
— Conta, está me deixando nervoso.
— Pensei: coitada da agente tanta coisa para ler. E se a cada uns cadernos de texto, eu colocasse um desses papéis grampeados. Assim ela vai descansando de tanto em tanto.
— Vige, fala que você não fez isso, por favor?
— Ouve, por favor, estou muito nervosa. Cheguei bem cedo aqui hoje. Acho que nem eram 6 horas da manhã. Fiquei duas horas organizando a nova pilha. Um bocado de cadernos e uma colherada de grampeados e terminei em duas horas. Era para ela descansar de várias leituras grandes para uma pequena.
— E agora, o que ela está fazendo?
— Lendo assim: ela vai de caderno em caderno separando os grampeados, acho que mais 6 horas, ela termina.
— Vou desligar para não começar a xingar você. Porque tenho certeza que entre esses tais grampeados está o contrato que era para sair hoje…