Obras sob Tutela

E toca o telefone

— Agência literária.

— Ela está?

— Ah, é o senhor. Que bom. Sua orelha não está doendo, não? Foi um horror o que seu autor reclamou do que você fez com ele. Fala um segredo para mim. Afinal senhor pagou ou não pagou o tal adiantado?

— Estou com presa, chama a agente, por favor. Tenho muitas coisas me esperando aqui na editora. Não posso ter segredos com você.

— Ah, pode sim. Todo mundo tem segredo comigo. Até quem escreveu esse livro que você vende dez mil por mês tem segredo comigo. É só falar assim: paguei o adiantado. Ou não paguei e nem vou pagar.

— Mas quanta teimosia, preciso falar com a agente daquele escritor mal educado que me destratou pelo telefone, usando mais de uma hora do meu tempo.

— Só isso! Comigo ele já falou mais de DEZ horas. Sabe o que é isso? Cheia de coisas para fazer da gerência de F.A.X.I. e fazendo com o telefone pendurado no ombro só para dar atenção ao autor sem adiantado.

— Assim não vai dar. Vou tentar o celular da agente. Você não passa o telefone para ela. Que horror um editor de valor, tão alto como o assinado com o autor da agência, ser tratado desse jeito. E mais, a agente vai saber em detalhes o que você faz quando ligam para ela.

— Bip, bip, bip.

— Ainda mais essa, ameaço de contar para a agente e ela desliga na minha cara.

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