logo-site-zigurate

Obras sob Tutela

Guia:

E toca o telefone

— Agência Literária.

— Que saudades de você, quanto tempo não falo com você.

— É mesmo, você sumiu. Como está? Escrevendo muito?

— Nem me fale. Acredita que já liguei 10 vezes ai, só para encontrar você. Quando a agente atende, desligo. Fingindo que caiu a linha. Tem detector de chamadas no telefone da agência?

— Que saiba, não. Mas por que tudo isso?

— Nem te conto. Prometi um livro para a agente. Já se passaram três anos e o livro continua pronto só na minha cabeça.

— Que vergonha!

— Nem te conto.

— Duvido que não vai contar. Pode começar.

— O primeiro ano, me separei, foi um drama mexicano. Um horror. Fui morar em pensão porque minha mulher juntou minhas coisas em sacos de lixos e trocou as fechaduras da casa. Só sobrou o carro para mim.

— Que confusão. Mas tem mais dois anos…

— Então, o segundo ano, joguei a toalha e me mudei para a casa da minha mãe. Foi só uma semana de sossego. Logo, em seguida, ela começou com dores aqui, ali, na coluna, cabeça, rins e foi indo. Acabei tendo de internar e dormir no hospital com ela. Durante o dia ficava exausto de tanto que ela roncava a noite. Decidi passar a noite acordado lendo e dormir o dia inteiro. Estou mais branco que sulfite. Nem me reconhece como brasileiro.

— Sei e agora o terceiro ano.

— O terceiro ano, é esse. Explicando, o final do terceiro ano é esse. Passei esse ano todo com problemas no meu notebook. E conserta daqui e vai naquele cara que recupera todos os arquivos do hard disk. Conclusão perdi as 10 páginas do que tinha escrito.

— Sei. A agente está abrindo a porta, passo o telefone para ela?

— Tun-tun-tun.

Artigos Relacionados

Sabe do que eu gosto?

A estética da indiferença

As coisas que eu gosto