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Obras sob Tutela

Guia:

Guerra de ninguém

Sydney Rocha
Guerra de Ninguém
Editora Iluminuras
Livraria Martins Fontes

 

Está é a história das duas meninas criadas no mesmo jardim, os pais desejando para o filha do amigo melhor destino que para sua própria filha. Se não tinham as mesmas bonecas era porque tinham mordomos e amas diferentes, e não é justo criar as beldades imaginando um mundo de rostos marcados pela igualdade, onde o jogo vai perdendo o interesse de ser jogo.
Chama-se Clara, a mais nova, ali ao lado do carrossel azul.
De vez em quando vem Anassilva, a babá, girar a roda.
Clara sempre aguarda o movimento e quando as mãos de Anassilva largam tudo rumo ao desfiladeiro, a mocinha, toda na cambraia, trinca bem os dentes de aço enquanto os cavalos empinam, galopam, atravessam o mar comendo chocolates e depois vão descendo das nuvens de volta ao jardim. Seus cabelos fazem mechas no sentido anti-horário e parecem ter gosto de sal, se algum nebuléptero voasse sobre o quintal da embaixada e atacasse a menina, como fazem nos bairros afastados. Mas os animais desse porte, devoradores de cabelos, se vão deselinhados, como ensinou Anassilva às meninas, já não existem desde muitas eras, elas souberam depois.
Clara carrega uma força a mais com ela, seu corpo levita onde as outras meninas afundam.
A outra menina, de pele transparente ao sol, também tem um carrossel no mesmo quintal. Talvez vejamos outros carrosséis ali, no entanto fiquemos nesses: nos de Clara e Carmelita: é esse o nome da outra, dos olhos de lagartixa correndo de coisa à Coisa, de àrvore à Árvore, mundo a mundo, os cabelos escorridos e loiros desafiando os nepulópteros, digo, nebulépteros.

 

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