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Rios Sedentos

Rios Sedentos
Roniwalter Jatobá
Editora Nova Alexandria
Estante Virtual

 

Depois de quase duas horas de viagem, quando o avião se preparava para aterrissar no Aeroporto de Salvador naquela manhã de domingo, uma aeromoça recolheu os últimos copos de plástico usados pelos passageiros. De repente, parou no corredor ao lado da minha poltrona e olhou diretamente nos meus olhos. Simpática, perguntou se era a primeira vez que eu voava. Pensei em mentir, mas respondi que sim e perguntei como sabia disso.

— É a experiência – disse num sorriso de dentes bonitos.

Em seguida, ela continuou pelo corredor com o seu trabalho, enquanto fiquei com uma séria dúvida na cabeça: como ela havia descoberto o meu medo de voar? A barriga encolhida? As mãos apertadas na poltrona ao menor balanço do avião? O olhar? Quem sabe. Na verdade, acho que devo ter dado uma tremenda bandeira de passageiro de primeira viagem.

Do meu lugar, vi quando ela depositou o lixo numa abertura perto dos banheiros e, depois, sumiu na cabine do piloto.

— Parece que ela gostou de você – disse meu pai, que observava tudo sentado ao meu lado.

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